quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Tão qual um bebedor de rotulo.



Alguns bebedores de cerveja mesmo não sabendo a diferença entre uma pilsen e uma premium dizem sempre que preferem uma marca tal, fundamentando que a marca escolhida é a melhor, sem conseguir no entanto explicar por qual motivo ela é melhor, tal entendimento tem como pilar principal o fato de a mídia promove a cerveja dizendo que ela é a “nº.1” ou que aquela cerveja “desse redonda” ou mesmo que a preferida “duplamente filtrada”. Esta é praticamente a definição do bebedor de rotulo, ele não bebe a cerveja, mas sim o rotulo que a empresa, e os publicitários, colocam em uma garrafa dizendo para ele que é a melhor, sendo que caso alguém tire os rótulos de duas cervejas e de para ele beber ele não sabe que diferenciar uma da outra.


Na onda do politicamente correto muita gente acaba, por analogia, “bebendo rotulo”, ou seja, pega uma ideia pronta que é vendida por uma grande empresa publicitária, ou pela mídia e a partir dali começa a vender a aquela opinião como sendo a melhor coisa do mundo, como se fosse uma verdade absoluta. No entanto, algumas pessoas não param para pensar se de fato o politicamente correto tem motivo para ser defendido, ou mesmo se ele tem alguma verdade e necessidade de ser propagado.


Uma das idéias mais difundidas do politicamente correto é a de que deve o cidadão fazer caridade, ter obra social e ainda, doar um dia de sua vida para fazer trabalho voluntario, sobre a alegação de que se cada pessoa doar uma parte de seu tempo, todos viverão melhor. Parece lindo este pensamento, e seria caso vivesse o Brasil uma realidade de primeiro mundo onde não há problemas maiores, e o cidadão comum tirasse um ou dois dias no mês para um trabalho voluntario que lhe trará satisfação pessoal e ainda da ao mundo um pouco mais de humanidade.


Porem analisando este pensamento sem colocar o peso do politicamente correto, deve o cidadão pensar, sabendo que no Brasil se paga a 2ª maior carga tributaria do mundo, impostos estes que são dignos da Europa central e o governo retribui a sociedade serviços (segurança, saúde, educação e infra-estrutura) dignos da áfrica tropical, de fato é mais importante se pensar no politicamente correto “trabalho voluntario” ou lutar por melhorias de governo? Cada povo tem o governo que merece, e o poder político na democracia emana dos eleitores assim sendo, a obrigação de todo eleitor é cuidar do político que votou, para merecer melhoras.


Muito mais importante que ter um trabalho voluntario que da a pessoa a falsa sensação de estar retribuindo ao povo aquilo que dele recebe é se ter consciência de que governo e povo tem compromissos e deveres, não é melhor cidadão aquele que mesmo tendo um trabalho voluntario não busca uma melhora para o coletivo; caso clássico de cidadão com trabalho voluntario é o traficante, que por um lado constrói praça, da dinheiro para aqueles que vivem na comunidade por ele dominado fazerem um tratamento de saúde, recrimina ladrões e aqueles que cometem violência sexual, mas em outro revéis vende droga e alicia os cidadãos para o crime, e tem suas próprias leis fundamentadas no ilícito.


Quando se fala de trabalho voluntario e de atividade social é necessário pensar que mesmo que todos os brasileiros tivessem trabalho voluntários as mazelas políticas continuariam, e o problema do Brasil não é de ordem social, mas sim política, não precisam os hospitais de “doutores do riso” mas sim de médicos, de remédios, de enfermeiros, não que o trabalho social seja ruim, ele é ótimo,trazendo ao doente um pouco de alegria em momento de dificuldade, mas o que de fato cura doença é tratamento especialistas e bons hospitais.


Mesma sorte tem o voluntario que sendo publicitário, por exemplo, vai a uma escola publica ajudar a pintar paredes ou ainda ler para alunos, é sim uma atitude nobre e salutar, porem o que de fato precisam as escolas no Brasil é de professores, de salas salubres, e não cobertas com sapé como acontece no nordeste, de livros que não contenham erros como 'Nós pega o peixe', de alunos motivados que tenham merenda boa e sem superfaturamento por parte dos governos, trabalho voluntario é um pus, porem tem que se ter o básico ou terá o trabalho voluntario apenas efeito circense para a mídia.


Desde o advento da Constituição de 1988 o Brasil viu, e ainda vê, um esvaziamento de deveres, onde cada cidadão só pensa em seus direitos, pais acreditam que o direito deles é que seus filhos sejam educados pela escola, esquecendo que eles tem a obrigação de educar seus filhos e a escola deve ensinar crianças que já foram educadas pelos genitores, assim como os filhos só pensam no direito que tem de serem mantidos pelos pais, porem os mesmos filhos esquecem que tem a obrigação de dever respeito e obediência aos pais. Apenas como exemplo.


O eleitor tem sim direito a uma distribuição melhor da renda no país, bem como a colher frutos da melhora mundial em um tempo sem guerras, com safras produtivas e em um país onde a população mesmo pagando impostos astronômicos não recebe nada em troca, porem este mesmo eleitor tem a obrigação de cobrar dos políticos, de buscar uma melhora para o país, para que se tenha uma melhora na qualidade de vida.


Assim sendo de fato o brasileiro melhorou de vida, podendo hoje comer picanha e tomar cerveja gelada, podendo “curtir” o carnaval, e ter todos os prazeres que o governo lhe proporciona, porem para conseguir isso aceitou que falte medico nos hospitais caso seja atropelado por um folião bêbado que sai do carnaval, bem como se tornou comum que falte professores nas escolas para ensinar os alunos. É um preço modesto, afinal esta o Brasil melhorando.

Eugênio Barbosa de Queiroz.

É Advogado, pós-graduado em Direito Ambiental. Militante no município de Juína – MT. Dicas, sugestão para textos eugeniobq@gmail.com

Talvez eu ainda seja um garoto que queira mudar o mundo, e agonize antes de subir no muro (como diria Cazuza), mas prefiro assim.

escolha o que gosta.

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