Com pretexto da
Copa do Mundo e das Olimpíadas 2016, com ênfase na revolta trazida pelos gastos
na primeira, o Brasil se viu em uma constante ebulição, onde a cada novo dia
surge uma manifestação, seja pelo preço da passagem de transporte coletivo, que
como muitos dizem, não é só pelos R$ 0,20, seja pela politica de pão e circo
que o governo impõe a população, a ponto de expor a triste realidade de se viver
em uma classe media que é rica para ser atendida pelos programas sociais, mas
que não pode pagar por aquilo que precisa.
Tais
manifestações buscam uma mudança de realidade, porem mais que isso, querem a
mudança de comportamento, pelo menos é o que dizem aqueles que manifestam, pleiteando
que a população colha parte dos bons ventos que tem soprado no Brasil desde a
abertura politica causada com as Diretas Já, seja com a chegada da privatização
que beneficiou a todos, propiciando que uma linha de telefone deixasse de ser
um bem, muitas vezes arrolado na partilha em inventario, ou com o fim da
inflação que beneficiou o país como um todo desde o trabalhador que sabe o
poder de compra de seu salario daqui 1 mês até o empresário que pode
contratar uma divida sem esperar por
surpresas na hora de pagar.
Como nem tudo
são flores, desde a abertura politica, no ano de 1988, o Brasil tem vivido fase
politicamente correta, onde tudo pode, onde tudo é relativizado entre o
politicamente correto e o legalmente aceito, talvez isso seja um resquício da
ditadura onde nada se podia, onde de fato pessoas que de forma democrática
buscavam o fim da ditadura, foram por vezes torturados e levados ao cárcere.
Porém, como um
ranço, que mácula o sabor da liberdade, vem o dissenso causado pelo pensamento
de que tudo se pode, de que tudo é permitido, assim se relativiza o direito a
propriedade para que alguns possam invadir a propriedade produtiva alheia,
buscando uma igualdade social; da mesma forma o direito do pai em educar o
filho é tolhido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que vê o filho
apenas como senhor de direitos, mas desprovidos de deveres; mesma sorte tem
aquele pai que pretendendo ensinar uma profissão ao filho vê castrada sua
iniciativa com a proibição imposta pelo mesmo ECA do trabalho do filho pequeno
lhe impede; são exemplos mas que espelham bem a fase vivida pelo Brasil.
Tal realidade da
relativização do certo e errado, restou muito evidente nos últimos tempos em
duas oportunidades, a primeira quando um livro de português trouxe a expressão
“nos pega” e posteriormente quando em outro livro, agora de matemática, havia o
seguinte exemplo “10 - 7 = 4”, naquela época foi amplamente defendido que não
se tratava de uma forma errada, mas sim de uma forma menos usual de se
escrever.
Neste momento é
onde resta evidente que há algo errado no politicamente correto, pois quando se
aceita que o certo e o errado podem ser relativizados, tão qual quando se
coloca o criminoso e a vítima na mesma seara, de vítimas da sociedade, resta
evidente que esta se “brincando com fogo”, uma brincadeira onde os dois lados
só tem a perder.
Perde o
criminoso que não tem direito a um julgamento justo, para ser condenado e
cumprir pena pelo crime que cometeu, perde também a vítima, que geralmente é
responsabilizada por um crime que não cometeu, contra o criminoso, simplesmente
por ser rica ou ter uma condição financeira melhor.
Assim quando se
vê a mídia noticiando, como tem acontecido muito nos últimos dias, de marginais
amarrados, por vezes espancados pelas suas vítimas, que em um momento de fúria
abrem mãos daquele pacto feito para se viver em sociedade, trazendo novamente o
olho por olho e dente por dente, como forma de se solucionar conflito, é
possível que se chegue a pensar, ser isso justiça, pois mesmo que por um só
momento a barbárie traz a vítima, que já viu por tantas vezes seu direito
ferido a gratificante sensação de estar fazendo justiça com as próprias mãos.
Fato é que
novamente esta se relativizando o direito, não como Lei, mas como justiça, pois
na sociedade dita moderna, não pode o bandido ser punido em praça pública com
chibatadas, como ainda hoje é feito no oriente médio, mas deve sim ser o
delinquente julgado, condenado e cumprir a pena que lhe será imposta, segundo
os princípios do direito isso terá como meta em primeiro momento a punição
daquele que já cometeu o ato ilícito e, em segundo momento, a função de servir
de exemplo para aquele que tem o animus de delinquir.
Quando mesmo que
por um momento a barbárie é aceita como forma de se solucionar conflito se perdeu
a essência daquilo que é sociedade, se relativizou o direito e o dever a tal
ponto, de não mais serem estremos, mas se tornarem iguais. Nítida é esta
realidade experimentada, no exemplo citado, onde o bandido e vítima, se
misturam, hora sendo criminoso, hora sendo vitima como se ambos fossem “vitimas
da sociedade”.
Infelizmente a
culpa de tal situação não pode ser lançada em outros, senão os eleitores, que
votam errado, que aceitam o imoral como certo, quando recebem uma bolsa
qualquer ao invés de cobrar dos políticos a geração de empregos; mesmos
eleitores que votam em políticos que lhes deram tijolos, telhas ou cimento na
hora da eleição e que necessariamente, para recuperar o valor gasto, precisam
de pilhar os cofres públicos, crime que resta relativizado, pois outrora os
eleitores já foram devidamente compensados.
Bom seria que os
protestos vividos no Brasil obrigassem o povo, como um todo, a pensar e manter
um senso critico, sem idolatrar os hoje lideres dos protestos, que
posteriormente se candidatarão a cargos eletivos e, eleitos, participarão do
banquete da verba pública virando as costas para aqueles que irão lhes eleger.
Melhor ainda,
seria que o povo, novamente como um todo, mas principalmente os eleitores,
deixassem de pensar que “existe almoço de graça”, pois se hoje o governante lhe
entrega algo, ele já lhe cobrou antes. Por fim, que o politicamente correto
volte ao seu lugar, como algo que esta na moda, mas que não pode ceifar o povo do
direito, e para alguns do dever, de pensar, de ter opinião, de julgar o que é
certo ou errado, pois na fumaça do politicamente correto, se esconde um povo
apático, sem vontade, sem princípios e que esqueceu que existe um certo e um errado.
Eugênio Barbosa
de Queiroz.
É Advogado,
pós-graduado em Direito Ambiental. Militante no município de Juína – MT. Dicas,
sugestão para textos eugeniobq@gmail.com